sábado, 20 de agosto de 2016

“O POVO SE VENDE FÁCIL” (Gilberto Cardoso dos Santos)


“O POVO SE VENDE FÁCIL” (Gilberto Cardoso dos Santos)


Um vendedor de bananas perguntou à freguesa: "Foi ontem pra o comício?"

A mulher fez  cara de nojo e disse: "Eu mesmo não. Deus me livre de sair de casa pra ir atrás desses pestes!"

O vendedor riu e prosseguiu em sua curiosidade: "Por que essa raiva toda, minha amiga? Tem que ir pra ouvir as propostas! Como é que você vai escolher?"

Ela pôs as mãos na cintura, fez um muxoxo e replicou simulando indignação:

"Propostas, que propostas? Louco é quem confia nesta cambada de mentirosos. São uns ladrões!"

Duas pessoas próximas deram sinais de concordar com o que ela dizia. Eu também assenti com um "hum hum" e comecei a prestar atenção na fala da mulher; imaginei que estava à frente duma pessoa politicamente esclarecida. Mas o feirante insistiu em querer saber o real motivo daquela raiva toda e a mulher esclareceu:

"São uns safados. A gente vai pedir as coisas e eles dizem que não podem dar porque a fiscalização está rigorosa demais. Dizem também que não receberam recursos. Então que se lasquem todos!"

Claramente, para minha decepção, faltava consciência política naquela mulher, aparentemente enceguecida por seus próprios interesses. Infelizmente, não tinha o perfil que eu esperava; era representante de um grupo numeroso, manifestou um modo de pensar que é regra, não exceção. Temi pelos resultados da eleição que temos à frente. Será que mais uma vez deliberada e ingenuamente erraremos em nossas escolhas?

Como bem disse Rubem Alves, "É o povo que escolhe, como seus líderes, de forma democrática, os bandidos, criminosos e corruptos. E que não me digam que o faz por ignorância. O povo se vende fácil."


Enquanto houver uma maioria que raciocina como aquela mulher - que se vende fácil - será difícil evoluirmos para uma sociedade justa e equilibrada.




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